O que é inovação no campo educacional?
No primeiro texto desta série, apresentamos uma reflexão sobre COMO falamos em educação, frequentemente usando certas metáforas que desmotivam a inovação no campo educacional. Neste segundo texto, apresento uma reflexão sobre O QUE É, o que se pode contar como inovação educacional e como realizá-la.
Sobre inovação, de forma mais ampla, existem muitas definições, geralmente voltadas ao mundo dos negócios. A mais conhecida de todas é certamente aquela de um dos criadores da gestão moderna, Peter Drucker (1986, p. 45): “Inovação é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos) existentes na empresa para gerar riqueza”.
Desse olhar sobre inovação, destaco dois aspectos centrais: 1. inovação diz respeito à mudança de comportamentos, presente em Drucker na forma de novas capacidades; 2. inovação diz respeito à criação de valor, traduzido em Drucker pela geração de riquezas. Assim, podemos conceituar inovação como um processo de criação de valor que induz a mudança de comportamentos. Mas, como isso se traduz para o campo educacional e como produzir inovação de um ponto de vista pragmático?
Primeiramente, é certo que podemos inovar em todas as áreas da educação escolar: nas práticas pedagógicas e didáticas, nas formas de gestão, no diálogo com a comunidade escolar, nas estratégias de avaliação de redes, nos modelos de negócios ou formatos de captação de recursos etc. Em qualquer destas áreas, o primeiro passo para inovar é identificar, descrever e refinar o desafio, demanda ou problema que emerge da atividade das pessoas e de suas relações.
Assim, se as crianças não conseguem aprender frações, a gestora não consegue reunir as famílias nas reuniões escolares, os empresários locais não se interessam pelo que se passa na escola, os educadores se sentem isolados ou os pedidos das comunidades nunca são viabilizados por falta de recursos, todas estas são demandas legítimas.
Para atuarmos em qualquer delas, a partir do prisma da inovação, precisamos inicialmente identificar um problema específico. Por exemplo, as crianças não aprendem frações porque o conteúdo é inadequado ao seu desenvolvimento cognitivo ou as atividades relacionadas a esse conteúdo não fazem sentido para elas? Ou porque a formação do professor não contemplou conhecimentos matemáticos sobre frações ou, talvez, devido a alguma outra combinação de razões que precisamos identificar de forma mais específica e detalhada entre as crianças que efetivamente não estão aprendendo aspectos específicos deste conteúdo?
Cabe lembrar que as respostas a quaisquer destas questões derivam de observação consistente e pesquisa, in loco e na literatura, a fim de se construir um entendimento real sobre as nuances do problema que desejamos resolver através de inovação.
O desenho de soluções inovadoras depende, portanto, de conhecimentos profundos sobre o problema que estamos tentando resolver. Depois, passamos ao processo criativo de produção de práticas, metodologias, serviços e/ou produtos capazes de endereçar o problema, no todo ou em parte.
Nesta fase de ideação, costuma-se ter uma abordagem intuitiva e espontaneísta, mas existem técnicas específicas e muito úteis para a ideação de soluções de alto valor agregado, empregando abordagens como o Design Thinking.
Aqui, recomendo fortemente a leitura e uso das ferramentas de ideação e inovação oferecidas pela Educadigital no portal “Design Thinking para Educadores”. Este material é muito rico, apresentando também exemplos práticos do processo ideativo. Igualmente interessante, mostra como, na sequência, experimentar as ideias levantadas até o refinamento de soluções factíveis (materialmente plausíveis), viáveis (economicamente sustentáveis) e desejáveis (as pessoas de nossa audiência desejarão usar a solução).
Como se vê, inovar é uma forma de resolver problemas, buscando-se uma escuta altruísta de pessoas em seus desafios e demandas cotidianas para as quais tentamos desenhar soluções de máximo valor agregado. Fazer isso na escola, como educador ou educadora, é difícil e requer tempo, mas é possível e muito necessário. Para tanto, acredito que algumas condições de contexto devem ser estabelecidas:
● Inovação é um processo em rede, portanto, mais bem realizada em grupos de professores e professoras, preferencialmente, em associação com a gestão da escola. Melhor ainda se envolver times de diferentes instituições a fim de aumentar a diversidade de contextos, pessoas e ideias;
● Inovação depende de conhecimentos técnicos e algum grau de criatividade, que, por sua vez, é mais bem exercitada em um ambiente de confiança, capaz de absorver risco e experimentação;
● Inovação é um processo cíclico, portanto, a mesma solução pode requerer múltiplas rodadas de testes até ganhar robustez: seja persistente e aprenda a usar os erros para aprender mais sobre seus usuários e melhorar suas soluções.
Por fim, é importante lembrar: o que conta como inovação não precisa vir acompanhado de artefatos digitais ou inovação tecnológica. Muitas das inovações de impacto na escola dizem respeito aos formatos de comunicação e diálogo, aos métodos de aprendizagem e interação entre os estudantes, ao envolvimento da gestão no cotidiano escolar etc. Entretanto, quando a inovação é também tecnológica, geralmente temos resultados com mais geração de dados e mais escaláveis. Exploro esse tema no próximo texto da série, até lá!
Sobre o autor:
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Luciano Meira
Coordenador de Inovação / Professor, Proz Educação / UFPE
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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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