Tudo novo… de novo? 2023 pede o ‘esperançar’ de Paulo Freire
Ainda estamos em janeiro e o que fazemos é pensar que tudo é novo. Afinal, ano novo, vida nova. Em nossos espaços para diálogos sobre educação, e tudo que envolve o tema, não poderia ser diferente, ainda mais para este ano. Inclusive, o ano letivo propriamente dito ainda não começou, mas educadores estão em permanente atividade, mesmo nas férias – temos novos ‘gestores’ nas escolas, instituições de ensino e, principalmente, no Ministério da Educação, agora sob o comando do ministro Camilo Santana.
Quando pensamos nas novidades que estão por vir ao longo de 2023, e nos anos subsequentes, é importante pensar na gestão para a educação com objetividade e clareza, para não cair no ‘dilema’ de Alice: “se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”.
Planejamento
Calma! Longe de questões complexas, a gestão educacional e a gestão escolar são fundamentais e, para isso, devem ser pensadas a longo prazo. Claro que as ações de curto prazo são importantes para um semestre e de médio prazo para o período do ano letivo. Mas, se quisermos respostas para uma educação de qualidade, com equidade e com todas as necessidades e prioridades que o ato de educar requer, o longo prazo determina mais que isso, pois se faz premente pensar em uma educação que atenda à sociedade e ao ecossistema educacional por uma, duas, ou mais gerações.
Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano, acredita que a educação é um produto cultural, é algo inventado. “Como tudo que é inventado, pode ser mudado se houver necessidade, se algo não estiver funcionando.”
Sim, mudar a rota talvez seja preciso para descobrir novos caminhos. Mas em qual porto vamos atracar o nosso navio ‘educação’? Temos que saber na largada qual o nosso objetivo final. Aonde queremos chegar? Por isso mesmo, há muitos anos Toro fala da importância da ‘construção’ de uma educação – e por que não gestão? – que pensa no longo prazo de 10 anos ou mais.
Destaque para o Ceará
Essa ‘gestão por propósito’ já é a base em muitas escolas, municipais e estaduais. Na rede pública de ensino, alguns exemplos têm demonstrado que a gestão a longo prazo não só é possível como apresenta bons resultados.
De modo geral, é o que faz o sistema público de ensino do Ceará, por exemplo. Segundo pesquisa do Ministério da Educação, com base nos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb 2019), o estado atingiu 5.2 pontos referente ao 9º ano, empatando na liderança com São Paulo, e é o terceiro mais bem avaliado no que diz respeito à 4ª série (6.3 pontos), atrás de São Paulo (6.5 pontos) e do Paraná (6.4). Entre as 20 cidades mais bem avaliadas em 2021, 18 estão no Ceará, de acordo com o Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ioeb), com destaque para Cruz e Sobral.
Comprometimento com o povo
Para todas as escolas e instituições de ensino, os mantenedores sabem que é preciso uma gestão comprometida com o futuro dos estudantes. E, na rede pública, a lógica deve ser a mesma e não repensada a cada quatro anos. Porque, assim, pensamos em educação como projeto de estado, de nação, e não de governos.
Cabe a todos que compreendem o ‘esperançar’ de Paulo Freire, olhar para 2023 e tempo afora e se perguntar: por que estou fazendo isso? O que estou fazendo agora vai me levar para esse futuro que tenho pensado e desenhado? Ou será que vamos fincar os pés, mãos, mentes e corações sempre no recomeço, no tudo novo de novo?
*Artigo publicado originalmente na Revista Educação.
Sobre a autora:
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Adriana Martinelli
Consultora de Educação e Inovação
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