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A mediação da aprendizagem no Ensino Superior

Júlio Furtado
A mediação da aprendizagem no Ensino Superior
O processo de mediação da aprendizagem exige que o docente tenha conhecimento sobre os alunos, o contexto social em que vivem e, claro, sobre o conteúdo ensinado

Mesmo que de forma tácita, o perfil desejável do professor de Ensino Superior das IES privadas é claramente delineado e conhecido. Podemos descrevê-lo a partir de três dimensões: a político-institucional, a burocrática e a técnica.

Político-institucionalmente, as IES desejam um professor comprometido com os valores e atitudes da instituição. Um professor alinhado com as crenças da universidade e que as reproduza em seu discurso e em suas atitudes. Burocraticamente, espera-se que o professor cumpra prazos, elabore planejamentos objetivos, preencha formulários corretamente, faça relatórios coerentes e mantenha o controle de frequência atualizado.

A terceira dimensão que completa o perfil do professor ideal é a dimensão técnica, infelizmente, em geral, a menos levada em conta. A dimensão técnica envolve as habilidades e competências intelectuais, pedagógicas e relacionais do professor para promover aprendizagens significativas, incluindo-se aí a competência de realizar a mediação da aprendizagem.

A palavra mediação foi dicionarizada no ano de 1670 e significa “ato de servir de intermediário entre pessoas, grupos, partidos, a fim de dirimir divergências ou disputas.”; “processo pelo qual o pensamento generaliza os dados apreendidos pelos sentidos”. Na religião, mediar significa interceder junto a um santo ou divindade para obter proteção ou graça. No Direito, significa procedimento que objetiva promover a aproximação de partes interessadas, na consolidação de um contrato, negócio ou litígio, de forma não autoritária pela interposição de um intermediário entre as partes em conflito.

aprendizagem

Mediar a aprendizagem significa colocar-se, intencionalmente, entre o objeto de conhecimento e o aluno, modificando, alterando, organizando, enfatizando e transformando os estímulos que vêm do objeto, para que o aluno tire suas próprias conclusões. O professor quando assume a postura de mediador da aprendizagem, apresenta situações nas quais o aluno e os conteúdos interagem e o primeiro, pouco a pouco, vai assimilando os conceitos e características do conteúdo.

A postura de mediação se opõe à postura tradicional de ensino, na qual o professor transmite um conteúdo que supostamente está em sua cabeça. É um processo de transferência de algo pronto, da cabeça do professor para a cabeça do aluno. Na mediação da aprendizagem, as situações apresentadas deflagram uma interação que, acompanhada e supervisionada pelo professor, irá possibilitar a aprendizagem do conteúdo por parte do aluno.

O processo de mediação da aprendizagem é composto por duas mediações que se complementam. A mediação didática e a mediação relacional. A mediação didática ocorre quando o professor faz perguntas, dá devoluções aos alunos sobre suas colocações e produções, problematiza o conteúdo com o objetivo de colocar o pensamento do aluno em movimento e, também, quando estimula os alunos a dialogarem entre si sobre suas atividades.

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Ao apresentar situações reais que contenham o conteúdo e propor aos alunos que analisem, tirem conclusões e complementem a aprendizagem através da leitura de textos sobre o assunto, por exemplo, o professor realizará mediação da aprendizagem. Nesse processo, o papel do professor, além de planejar e dinamizar a atividade, é de sanar as dúvidas e complementar as informações de forma que a aprendizagem não tenha lacunas.

Paralelamente ao processo de mediação didática, ocorre a mediação relacional cuja principal finalidade é motivar, ou seja, não deixar o aluno desistir de aprender. Para ser um bom mediador relacional, o professor precisa acreditar na capacidade de aprender do aluno. Precisa ter para com o aluno um olhar de possibilidade e ajudar esse aluno a enxergar esse potencial. Podemos dizer que enquanto a mediação didática se concretiza na dimensão técnica, a mediação relacional se concretiza na dimensão humana.

Para que seja possível uma mediação da aprendizagem competente por parte do professor é preciso que ele tenha clara a resposta para algumas perguntas essenciais. A primeira é “qual o papel da minha disciplina na formação profissional do curso?”. Ao responder essa pergunta, o professor circunscreve seu campo de ação no planejamento das atividades que serão propostas.

A segunda é “que habilidades e competências profissionais estão direta ou indiretamente ligadas à disciplina que leciono?”. Através dessa pergunta, o professor delimita ainda mais seu contexto no planejamento das atividades problematizadoras, propondo desafios o mais fiéis possível à futura atuação profissional.

A terceira pergunta é “quais são os conteúdos prioritários para a aprendizagem das competências inerentes à minha disciplina?”. Ao responder essa pergunta, o professor ganha a clareza a respeito de que temas deve focar com mais frequência e intensidade ao longo do período, aumentando as possibilidades de desenvolvimento das competências necessárias à formação profissional.


A quarta pergunta é “como saberei se eles estão desenvolvendo as competências?”. Essa pergunta garante a objetividade do processo de avaliação e evita que o professor se perca em questões que visam apenas avaliar se o aluno sabe detalhadamente o conteúdo e foque na avaliação do quanto o aluno já desenvolveu das competências inerentes a sua disciplina.

A quinta e última pergunta é “Quais as expectativas dos alunos com relação às aulas e à disciplina como um todo?”. Embora seja a última pergunta, essa deve ser uma das primeiras a serem respondidas, pois ela informa ao professor que esforços deverão ser feitos para que os alunos compreendam o verdadeiro papel da disciplina.

O processo de mediação da aprendizagem exige que o docente tenha conhecimento sobre os alunos, o contexto social em que vivem e, claro, sobre o conteúdo a ser ensinado. A cultura, os hábitos e a realidade dos alunos são insumos essenciais à prática de uma mediação da aprendizagem que resulte na formação de profissionais competentes.

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*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.

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