Ano novo: vem aí uma nova sala de aula
2025 chegou e com ele novos desafios. Para além de novas turmas, novos alunos, precisamos iniciar o ano letivo com um novo perfil profissional, perfil este motivado em prol de um novo futuro e não de um passado cristalizado.
Por esse motivo, precisamos apresentar uma nova mentalidade e deixar marcas efetivamente positivas no processo de construção dos novos cidadãos que precisam ser preparados para o mundo.
Para começar, meu convite para você, educador, seja você professor ou gestor, é uma reflexão sobre duas palavras fundamentais na construção do novo modelo de sala de aula: tradição e inovação.
Para darmos vida ao Projeto Político Pedagógico na nossa instituição, é preciso que tenhamos clareza dos nossos 'Valores, Princípios e da nossa Missão'. Isso revela a nossa “Tradição”, sem desconsiderar sua atualização. Compete a todo gestor explicitar, no início de cada ano letivo, a releitura deste documento para que todos tenham conhecimento, inclusive os novos profissionais da escola, para que todos possam dar vida a ele.
Desta forma, podemos garantir que o propósito, o porquê da existência da instituição torne-se referência para o fazer docente e uma realidade no cotidiano escolar. Neste contexto, valida-se todos os princípios que caracterizam a nossa escola de modo a garantir que tudo o que foi positivo e relevante na construção da história de vida da instituição seja mantido e, também, atualizado aos novos tempos.
Por isso, é indispensável também que haja espaço para a reflexão sobre a “inovação”, necessária ao contexto escolar. É preciso entender o contexto atual para que, a partir daí, possamos dar novas respostas para novos desafios a partir da consistência de conceitos e habilidades que, entendemos, devam ser desenvolvidos no cotidiano da sala de aula.
Para isso, é preciso termos novos olhares e construirmos novas práticas que respondam a estes desafios. Mas quais podem ser estes desafios que teremos a enfrentar? É claro que cada escola terá os seus, mas vou trazer alguns, aqui, que entendo serem comuns a diferentes instituições:
- Implantação da BNCC: já está em curso, mas que ainda precisa ter este processo lapidado de modo que nosso foco seja o desenvolvimento de habilidades e competências;
- Novo Ensino Médio: requer reorganização curricular e clareza de objetivos para preparar, de fato, o aluno para a vida;
- Sistematização do uso das metodologias ativas e das novas tecnologias, com ênfase à Inteligência Artificial que precisam ser vistas como estratégias e recursos que agreguem valor ao processo educativo e ao desenvolvimento integral;
- Oferta de ensino personalizado: de modo a atendermos, cada vez mais, à diversidade e garantirmos a Inclusão de todos num processo educativo de qualidade, com a devida equidade;
- Desenvolvimento das competências socioemocionais: a fim de que atuemos para além das “hard skills”, mas possamos garantir que as “soft skills” favoreçam o desenvolvimento de habilidades e competências que contribuam para a saúde mental das atuais gerações;
- Conscientização para a prática de uma avaliação formativa que assegure a formação integral e processual do aluno, focada nos objetivos de aprendizagem;
- Oferta de processos de capacitação contínua aos docentes: desenvolvendo, assim, um processo de aprendizagem ao longo da vida – Lifelong Learning – que favoreça a melhor performance do educador, mas atenda aos desafios na formação das novas gerações;
- Desenvolvimento das habilidades para o século XXI e, de modo especial, a capacidade de aprender continuamente, a criatividade e o pensamento crítico.
Muitos são os desafios, não é mesmo?!
E para efetivar realmente a transformação da sala de aula, precisamos pensar no papel do professor que deve assumir seu protagonismo no processo de formação pessoal e coletiva.
Compete ao professor, para dar a largada ao seu planejamento de aulas, conhecer o contexto da sua turma, adaptar métodos e conteúdo para atender diferentes estilos de aprendizagem, propor estratégias que estimulem o pensamento crítico e a criatividade.
Assim como usar tecnologias digitais de modo equilibrado e para personalizar o ensino, desafiar seus alunos para comprometer-se com a aprendizagem, reconhecer suas forças e fraquezas para buscar sua própria superação, ter um mindset de crescimento em que perceba que não precisa receber para aprender, mas que isso se dá, também, a partir de sua própria iniciativa.
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E o que cabe ao gestor? Nesse contexto, compete ao gestor criar, na escola, um ambiente em que os riscos calculados sejam aceitos e que, neste ambiente, a troca e a colaboração sejam marcas motivadoras para a mudança.
Importante também que o gestor ofereça espaços para avaliações de desempenho construtivas, onde o professor possa autoavaliar-se para reconhecer seu sucesso ou dificuldades e assim possa refazer rotas em espaços de atendimento com seus coordenadores, cabe ainda ao gestor propiciar um espaço de troca de práticas de modo que se crie, no segmento, na escola, uma rede de apoio aprendente.
Além de um professor protagonista na construção de seu perfil docente atualizado, é indispensável a construção de um perfil de aluno também autônomo que possa contribuir com a construção de seu plano de aprendizagem. A sala de aula precisa ser mais receptiva, engajadora, motivada e interativa de modo a garantir a flexibilidade no uso de recursos, tempos e espaços no processo de mediação entre os diferentes interlocutores.
Esta sala de aula para os novos tempos precisa favorecer uma aprendizagem ininterrupta no daqui e agora com o uso do ensino formal, com diferentes plataformas.
A IA ajudará na análise de dados para melhoria da gestão educacional e, também, para a personalização do ensino. Cada vez mais usaremos como recursos a realidade virtual e aumentada, os chatbots, simuladores digitais. Os materiais didáticos incorporarão livros digitais, dispositivos móveis…e, por isso, não podemos nos esquecer de dar ênfase ao uso ético das ferramentas digitais, conscientizando a todos sobre isso, o que vai nos desafiar a aprender mais!
Neste contexto de mudanças e novos desafios, precisamos desenvolver a nossa capacidade de adaptabilidade onde o novo agregue valor à prática, a partir de uma tomada de decisão reflexiva e fundamentada que leve à escolha de decisões assertivas e coerentes aos objetivos de aprendizagem e, consequentemente, ao desenvolvimento da intencionalidade pedagógica, habilidade indispensável para o alcance de objetivos pessoais e institucionais.
Esta escola em movimento de mudança deve construir um currículo que faça a ponte entre a sociedade e a escola, trazendo aspectos da cultura, da política e do social, agregando diferentes experiências, conteúdos e habilidades.
Tudo isso só será possível quando o gestor assumir sua liderança reflexiva e envolver suas equipes, também nesse propósito, favorecendo pertencimento e conhecimento do PPP para assegurar a identidade do projeto, desenvolvendo o espírito de corresponsabilidade, gerando assim acolhimento dos pares e, consequente, empoderamento. Precisamos estar abertos a nos reinventar continuamente.
Feliz sala nova! Feliz escola nova!
Sobre a autora:
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Sandra Andrade Scapin
Pedagoga e especialista em docência do Ensino Superior pela PUC-SP
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