Por que os pais têm medo das férias das crianças?
Eu usei o medo por não ter encontrado outra palavra que definisse melhor a situação. Todo ano, a história se repete para todas as classes sociais. De um lado, os pais ricos já iniciaram a procura por colônias de férias para seus filhos. Esses querem a todo custo encontrar “programações” que atendam suas crianças durante o período que estão prestes a começar.
Do outro lado, os pais pobres já se perguntam com quem seus filhos ficarão no período que a escola, sobretudo, as de tempo integral, estiverem de férias. Claro que a justificativa, para ambas as classes sociais, é sempre a mesma: os pais precisam trabalhar e não tem com quem deixar as crianças por um período tão logo.
Mas se analisarmos a situação bem de perto, mas bem de pertinho, iremos perceber que não é bem assim. Há, verdadeiramente, pais que precisam deixar seus filhos em instituições para poderem trabalhar.
Mas essa história com somente uma saída me incomoda sempre: por que a única saída dos pais é sempre deixar as crianças institucionalizadas? Cadê os avôs dessas crianças? Elas não têm padrinhos e madrinhas? Não há outras crianças no prédio, na rua ou na vizinhança? Por que pais não se organizam coletivamente para cuidar dos filhos uns dos outros em revezamento para que as crianças possam estar em seus lugares? Por que nunca pensam na criança como prioridade? Por que as crianças são sempre as que precisam ser sacrificadas para que os pais possam manter seus empregos e rotinas?
Acho triste uma sociedade onde o trabalho do pai e da mãe, e a ocupação de ambos, é sempre a justificativa para a falta de tempo às crianças. Há exageros, sabemos. Pais que não querem se ocupar dos filhos e buscam instituições. Mas há também escolhas, e é isso que eu quero apontar aqui.
Leia também:
- A proibição do uso de celulares na escola
- Infância e adolescência numa relação saudável com as tecnologias digitais
- Apostas online: de letramento em letramento, a educação pode dar sua contribuição
Todo mundo que trabalha e tem filhos pode perfeitamente conciliar as férias do trabalho com as férias dos filhos. Mas, aí entram infinitas justificativas que não vem ao caso aqui, mas quero deixar claro que se houver vontade do pai e da mãe em estarem com seus filhos durante as férias é sempre possível. Repito – É POSSIVEL, BASTA QUERER.
Pais precisam entender que não dá mais para aceitar a justificativa de que a criança sempre tem que perder de sua infância em nome das necessidades dos adultos. Precisamos mudar essa mentalidade.
Criança precisa ir ao parque e na praça com seus pais – e isso é possível. Crianças precisam brincar livremente nas ruas e nos quintais – e isso também é possível. Crianças precisam ter pipoca e bolinhos deliciosos nas tardes vendo filmes ou jogando games. Crianças precisam ficar ociosas, sem fazer nada, apenas contemplando o nada, sem cobrança de qualquer natureza. Tudo isso não depende de condição social. Depende de amorosidade, depende de escolhas, depende de prazer em estar com quem se está.
Pais e mães podem ficar dando mil desculpas por não poderem estar com seus filhos nessas próximas férias, mas eu continuo dizendo que argila tem por toda parte, gravetos debaixo de toda árvore, cantigas e histórias têm dentro de nossas cabeças, animais para brincar até no vizinho a gente encontra. Passeio na rua, no rio, na fazenda ou no sítio é perfeitamente aplicável. Crianças querem e gostam é de companhias. Crianças gostam e querem são risos soltos, brincadeiras de chão, abraços, cabelos ao vento, encantamento e doçura.
Opte por dar ao seu filho condições para que ele possa, nessas férias, viver sem horário, sem listas de material, sem câmeras para vigiar, sem grupos a participar e sem tarefas nas terríveis colônias de férias que mais parecem escolas de tempo alongado.
Lembre-se, crianças precisam de ar, de pés no chão, de chuva na cabeça e de muita lama pelo corpo. Isso tudo é grátis e pode ser encontrado manhã, tarde e noite, basta você querer. Espero que você queira o melhor para seu filho nesse verão. E o melhor? Liberdade!
Sobre o autor:
-
Geraldo Peçanha de Almeida
Pedagogo, psicanalista, mestre em Teoria Literária e doutor em Crítica Literária
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
Compartilhe nas redes sociais:
Categories
- Estratégias de Aprendizagem