Brasil é o quarto país no ranking de países que mais usam a IA Generativa
O avanço das soluções de IA generativa no país é uma realidade inquestionável. O Brasil foi responsável por 5,16% do tráfego total do ChatGPT, ficando em quarto lugar no ranking de nações que mais usam a IA, segundo uma pesquisa do Traffic Analytics, divulgada pela plataforma Semrush. As plataformas de inteligência artificial da OpenAI tiveram 2,4 bilhões de acessos em todo o mundo, somente em janeiro de 2024.
No contexto da educação, gestores e educadores enfrentam a tarefa de incluir recursos de IA nas salas de aula de forma útil na prática pedagógica, ao mesmo tempo que aprendem a lidar com a novidade e tentam entender as possíveis implicações éticas em relação à personalização do ensino e à propriedade intelectual do trabalho gerado pelas ferramentas de IA.
O coordenador de Ciência e Inovação da Proz Educação e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luciano Meira, destaca que o uso da inteligência artificial na educação pode contribuir para o aprimoramento do trabalho educacional. No entanto, antes de aplicar essas ferramentas na sala de aula é necessário observar e entender que esse é um momento de experimentação.
“Hoje os grandes modelos de linguagem denominados LLMs, ou seja, o ChatGPT e outras soluções do gênero, são capazes de fazer correções, inclusive com critérios que nós ensinamos ao LLM. Tem muita coisa interessante para experimentar e ensinar a essas soluções. Não é só fazer uma pergunta ao ChatGPT, é na verdade instruir o ChatGPT que tipo de resposta a gente deseja e com que grau de correção e de sofisticação”, afirma Meira.
A analista Educacional da CESAR School, Tanci Simões, avalia que a adoção da IA generativa em sala de aula traz consigo uma mudança de paradigma com mais centralidade no processo e menos nas respostas prontas e acabadas.
“Sabemos que metodologias como Problem-Based Learning e Project-Based Learning já evidenciavam essas premissas, no entanto ferramentas baseadas em IA generativa não apenas apresentam respostas bem elaboradas, como são capazes de produzir prototipagens, estruturar processos complexos em detalhes, realizar análises e produzir grandes volumes de texto. Logo, estratégias bem-sucedidas precisam ser mais que novos velhos jeitos de fazer o que sempre fizemos, em que modificamos a ferramenta e seguimos relegando ao aluno uma postura passiva ou semi-passiva”, afirma a analista educacional.
Ela explica que, na prática, em vez de investir toda a energia buscando criar um recurso educacional baseado em IA generativa, o ideal seria repensar a estratégia para que o aluno utilize a IA generativa para criar, analisar e comparar de maneira crítica, intencional e significativa.
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Ainda neste sentido, Tanci alerta para a necessidade de capacitação dos professores, uma vez que ainda há muito receio sobre o uso de IA em geral, com preocupações sobre a substituição dos docentes por ferramentas inteligentes e outros relacionados a plágios e fraudes nas atividades escolares.
O pesquisador sênior da CESAR School e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Rafael Ferreira Mello, opina que a IA é uma ferramenta que pode potencializar o aprendizado dos alunos ao integrar as práticas pedagógicas já utilizadas pelos professores.
"A Inteligência Artificial surge como uma ferramenta poderosa que potencializa o que os professores já fazem em sala de aula. Historicamente, as turmas eram menores, com 30 ou 40 alunos, mas hoje, em cursos online, esse número pode chegar a 100 ou 150. Como os professores conseguem gerenciar tantos alunos? A IA entra em cena para analisar dados e dar suporte ao professor, como no envio de feedback e correção de questões específicas. É um apoio importante, em que o professor tem autonomia, ou seja, não é uma ferramenta automatizada para fazer tudo sem ter o professor envolvido no loop”, afirmou Mello.
IA na educação básica
O diálogo sobre como inserir a IA com propósito na Educação Básica em escolas privadas e públicas é um dos pontos centrais da Jornada Bett Nordeste, que será realizada nos dias 4 e 5 de setembro em Recife. O evento itinerante, organizado pela Bett Brasil, maior evento de Inovação e Tecnologia para Educação na América Latina, tem como temática central para guiar os painéis de debate: “Inteligência Artificial (IA) e Inteligência Emocional (IE) na educação: o que devemos aprender?”.
Luciano Meira, Tanci Simões e Rafael Mello fazem parte do time de palestrantes convidados do evento. A programação conta ainda com outras referências do setor de educação, como: o professor titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alex Sandro Gomes, o diretor presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, a diretora e sócia da Escola Vila Aprendiz, Paula Carneiro Leão e o psicólogo André Daconti Menezes.
Ainda na lista, a neurocientista Carla Andrea Tieppo, a sócia e CEO da Opice Blum Academy, Alessandra Borelli, a diretora executiva do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação, Anna Penido e o escritor e psicólogo clínico, Rossandro Klinjey. Confira a programação aqui.
Meira enfatiza a importância de eventos como a Jornada para debater não apenas o uso dessa ferramenta no espaço docente, como também de que forma ela se articula com a emergência da emocionalidade na escola. “Basicamente a gente vai discutir como é que a gente articula a vida afetiva das pessoas, seja estudantes ou professores, com o uso de uma ferramenta cujo algoritmo tem o poder de realmente transformar a escola para usos de uma tecnologia digital extremamente interessante e muito poderosa”, afirma ele.
Tanci destaca que têm altas expectativas sobre a participação na Jornada Bett Nordeste. “Achei especialmente sofisticado que a temática central evoque a inteligência sob perspectivas humanas (emocional) e tecnológicas (artificial). E o que me deixa não apenas cheia de expectativas, mas muito esperançosa é o posicionamento que não busca ter todas as respostas: o que devemos aprender?. Quando novas tendências despontam, rapidamente surgem especialistas com suas muitas certezas, promessas e ‘balas de prata’, argumentando sobre questões que ainda não entendemos com clareza, nem identificamos seus desdobramentos e impactos. Logo, me deixa feliz que seja esse o posicionamento: ainda estamos aprendendo, venha aprender conosco”, afirma a analista educacional.
Já Mello revela que é a primeira vez que irá palestrar em um evento da Bett Brasil. “Será muito legal sentar e discutir com pessoas de várias áreas e backgrounds diferentes. Estou animado e espero conseguir trazer um pouco das experiências que tenho visto por aí e contribuir com a discussão para que a gente consiga facilitar essa adoção de IA na educação, sem criar muitos monstros ou preocupações a mais”, comenta.
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