As contribuições neurocientíficas nas práticas pedagógicas no ensino superior
Uma vez na sala de aula, em um curso de graduação, um aluno me perguntou: “Professora, em que a senhora trabalha?” Fiquei assustada, pois jamais pensei que ser professora não era parâmetro de trabalho para as pessoas. Então, respondi que sou trabalhadora de estudos acadêmicos e científicos, desperto sonhos e desejos em inteligências adormecidas, provoco mudanças em atitudes e comportamentos mediando processos de pensamentos críticos e reflexivos aplicados no cotidiano da vida das pessoas.
Trabalho com gente no intuito de promover um futuro melhor e mais justo em nosso país. Tenho um compromisso com o ensino e a aprendizagem dos alunos na formação acadêmica nas universidades, desenvolvendo pesquisas a fim de aplicá-las na melhoria do desempenho e no progresso educacional. Por isso, sou professora... com direitos e deveres como outro profissional, pois existem desafios a serem cumpridos.
O professor universitário tem que estar à frente do seu tempo, atualizado para novas tendências mercadológicas: é um profissional específico em sua área de atuação na atividade docente, por isso se faz necessário um despertar para a compreensão que a docência, como a pesquisa e o exercício de qualquer profissão, exige a capacitação própria e específica, e que não se restringe apenas a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre, doutor, ou, ainda, apenas o exercício de uma profissão.
O professor universitário precisa rever suas práticas docentes, pois caso contrário estará fadado à extinção, ou melhor, poderá virar um “professorsauro” na educação, obsoleto. O principal papel é o de aprender novas competências e habilidades, a fim de serem aplicadas em suas práxis pedagógicas. Para isso, não basta saber muito tecnicamente, o professor universitário precisa aplicar didaticamente seus saberes e conhecimentos, tornando-se mediador e um provocador de desafios e curiosidades no ambiente de aprendizagem.
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Neste sentido, cabe ao professor universitário um alerta quanto às suas funções, tanto na sociedade em geral quanto nas comunidades acadêmicas: perceber a necessidade de renovação/atualização em torno da formação profissional, currículo e processos de aprendizagem.
Sem dúvida, o grande desafio do professor universitário é promover a aprendizagem de seus acadêmicos, por isso, um dos caminhos para realizar tal tarefa é a de reconhecer como o cérebro de seus estudantes aprende e guarda saberes, e como se processa o upgrade do conhecimento contextualizado para o exercício profissional.
O professor precisa ser um bom observador. Seu olhar sobre o educando é indispensável para compreender sua timidez e dificuldades na hora de aprender. Nesse sentido, o professor precisa estar preparado para conhecer seu aluno, pois cada sujeito evolui intelectualmente de maneira diferente.
E esse “conhecer” seria através da neurociência. A aprendizagem é uma modificação biológica na comunicação entre os neurônios, formando uma rede de interligações que podem ser evocadas e retomadas com relativa facilidade e rapidez. Todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo de aprendizagem, inclusive a emoção. A aprendizagem resulta no crescimento ou nas alterações das células quando o axônio de uma célula recebe um potencial de longa duração com estimulações fortes. À medida que uma célula recebe estes estímulos fortes, estes vão sendo repassados de uma célula para outra.
Na realidade, não se pode deixar de mencionar o quanto é importante o papel do professor na educação superior, mas não como um mero transmissor de informações, pois nisto a tecnologia pode ser bastante eficaz, mas um mediador entre o discente e o objeto do conhecimento, com a função de estimular o seu aluno a querer aprender sempre coisas novas.
Acredita-se que uma aula centrada no falar e ditar do docente, sem espaço para que os discentes apresentem seus pensamentos, ideias ou até conhecimentos, pode se tornar algo autoritário e maçante. Nesse sentido, a universidade deve estar preparada para se apropriar dessas novas mudanças, proporcionando um espaço onde todos os atores sociais envolvidos possam utilizar as tecnologias de maneira a acrescentar e colaborar para melhoria educacional.
Para o alcance deste objetivo, é primordial que todos estejam preparados e capacitados para o rompimento deste antigo paradigma no processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, é preciso que o professor se utilize de diversos mecanismos visuais, textuais, lúdicos e interativos no seu plano de aula a fim de que mais sinapses sejam produzidas para que, desse modo, o aprendizado se dê de forma prazerosa, completa e consolidada.
Para conseguir êxito neste processo de construção o educador deve criar metodologias sistêmicas de origens diferentes para que, então, a informação seja transitada pelos neurônios diversas vezes e, deste modo, produzir e reforçar, cada vez mais, as sinapses – que podem se formar quimicamente ou eletricamente.
Portanto, este é o desafio dos professores na atualidade: incentivar a memória dos alunos para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem, aprimorar suas práticas pedagógicas fazendo o uso da neurociência e entender que isto é imprescindível para atender a esta geração tão diversa e que aprende de forma hipertextual.
Sobre a autora:
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Marta Relvas
Professora | Doutora e mestre em psicanálise
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.
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