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02 dez 2024

Infância e adolescência numa relação saudável com as tecnologias digitais

por Sandra Andrade Scapin
Infância e adolescência numa relação saudável com as tecnologias digitais
Foto: Freepik.
Em meio às discussões sobre a proibição do uso dos celulares nas escolas, como o gestor escolar pode ajudar neste processo?

É inegável que estamos vivendo a era da conectividade e que precisamos preparar nossas crianças e adolescentes para viver neste mundo, mas, da mesma forma, também precisamos poupá-las dos danos a que a exposição exagerada ao uso de telas e, em especial, ao uso das redes sociais tem provocado!

Em meio à discussão sobre o assunto relacionado ao vício que o uso de telas tem provocado em crianças e adolescentes e, porque não dizer, nos adultos também, em pesquisa do Datafolha/2024, 93% dos brasileiros manifestaram concordância sobre o fato de que nossas crianças e jovens estão ficando viciados e, em pesquisa da TIC Educação/2022, 72% dos alunos assumiram que usam redes sociais durante as atividades escolares.

A discussão aqui não trará questionamento sobre o uso pedagógico das tecnologias que é fundamental, mas sim trará reflexões sobre a exposição prematura e viciante de telas e sobre a necessidade de atuarmos nas famílias, escolas e instâncias governamentais para coibir a exposição intensa e garantir a saúde mental de crianças e adolescentes.

Para começar, quero trazer algumas ideias desenvolvidas pelo psicólogo social Jonathan Haidt, no seu livro "A geração Ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”.

O livro traz uma riqueza de pesquisas desenvolvidas nos últimos anos, que nos mostram, de forma clara e objetiva, os malefícios que o uso abusivo de telas tem causado. O livro retrata o quanto o afastamento das crianças das relações presenciais, das brincadeiras no mundo real, tem comprometido o desenvolvimento emocional e social ao longo da vida. Além disso, é notável o comprometimento cerebral que ainda está em fase de formação e a mudança comportamental de meninos e meninas expostos às telas.

Em linhas gerais, pode-se concluir que a infância e adolescência influenciadas pelo celular causou e causa ainda impactos significativos nas relações sociais e na saúde mental, ocasionando um crescimento abusivo de casos de ansiedade e depressão entre adolescentes, especialmente a partir de 2010. O uso excessivo de telas tem causado alguns malefícios muito significativos à aprendizagem:

  • Privação do sono: acarreta a perda de concentração, o comprometimento da memória, o comprometimento da fixação de conteúdos trabalhados e irritabilidade;
  • Problemas de atenção: ocasionam dificuldade na concentração e o foco em tarefas, desperdício de tempo e perda no desenvolvimento das funções executivas.

Além destes dois grupos de malefícios, causa ainda privação social, que oferece risco maior de ansiedade e depressão, redução da qualidade na interação social e, consequentemente, relacionamentos rasos; e por último, mas não menos importante, causam vícios.

Além destes problemas intimamente ligados à aprendizagem, o uso excessivo de telas leva à obesidade e sedentarismo, problemas de visão e autoestima que, nas meninas, têm levado às crises de ansiedade e depressão e, nos meninos, à maior agressividade.

Diante de tudo isso, a aprendizagem tem ficado mais comprometida pela falta de foco e concentração, pela dificuldade de processamento e pelo impacto na memorização.

Hiperconectividade nas escolas

Atuação conjunta entre escola e família é fundamental no debate sobre o uso de celulares. Foto: Freepik.

Para além destas dificuldades, a excessiva exposição às telas compromete o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, como a resiliência frente às dificuldades e fracassos, a empatia frente aos conflitos, o autocontrole, habilidades de cooperação e negociação e a própria autogestão de tarefas ou compromissos sociais.

Pois bem, sabemos que desde que os smartphones chegaram, nós pais acreditamos que estando em casa, nossos filhos estariam protegidos de outros riscos externos e, com isso, fomos sendo cada vez mais condescendentes com o tempo de exposição em nome de uma suposta proteção.

Hoje, frente a tantas pesquisas e reflexões, sabemos que ao contrário, nós expusemos nossos filhos a outros riscos e mais, limitamos as possibilidades de aprendizagens para a vida, além de expor nossas crianças a perdas na saúde física e mental.

Assim, precisamos desenvolver um olhar mais crítico para o uso destas tecnologias e garantir que possamos fazer uso delas de forma mais assertiva e de acordo com sua importância para o desenvolvimento crítico e reflexivo da aprendizagem. Afinal, a tecnologia está aí e traz grande ganhos, mas agora é chegada a hora de trabalharmos estes recursos com mais equilíbrio.

Como lidar com isso neste momento?

Na esfera federal e estadual estamos diante de projetos de lei que discutem a proibição do uso de celulares nas escolas, inclusive nos horários de intervalo e recreio. Como lidar com isso neste momento?

Se queremos uma educação para a vida e que prepare para uma construção crítica e reflexiva da realidade, por certo a proibição não seria o melhor caminho, no entanto, como estamos diante um problema de saúde e como temos uma epidemia desenfreada de tempo de uso, este pode ser o caminho mais adequado, proibir sob o amparo legal para ganhar tempo para trabalhar pela conscientização sobre o que as pesquisas e estudos trazem para que nossas crianças e adolescentes entendam as medidas tomadas e possam se sentir mobilizados por novos recursos para aprender e interagir em sociedade.

Por certo que a proibição pode e deve ser apenas um dos passos, mas é preciso que se desenvolva uma ação conjunta entre escola e família para que a mudança de cultura aconteça e uma formação de todos se dê.

Precisamos começar a usar o espaço da escola como espaço formativo de crianças, jovens e adultos (pais e professores). Todos os envolvidos devem entender a razão da proibição e refletir sobre seus papéis nesta mudança de chave.

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Os pais precisam entender este panorama de risco da hiperconectividade e assumirem uma presença mais efetiva junto aos filhos, oferecendo oportunidades variadas de brincadeiras ao ar livre, com jogos de tabuleiro, com interações entre pares para que as crianças aprendam habilidades que só se desenvolvem na interação olho no olho.

Os professores precisam investir no uso equilibrado das plataformas digitais em sala de aula de modo a inserir em suas práticas, estratégias características de metodologias ativas e que podem ser analógicas em muitos momentos. E nossas crianças e jovens precisam ser desafiados a estabelecerem relações com seus pares sendo levados a resolverem diferentes situações- problema de forma saudável e independente.

E diante disso, o que compete ao gestor escolar?

Para começar, compete ao gestor refletir profundamente sobre estes estudos, trazer isso para a pauta de reuniões com suas equipes para envolver todos no processo de conscientização para esta nova forma de gerenciar o uso de telas e o tempo de sala de aula.

A partir deste passo, o gestor precisa envolver suas equipes no processo de conscientização, questionar seus grupos como a escola deve atuar para favorecer esta mudança. A partir daí, deve olhar para as condições de infraestrutura e recursos humanos para favorecer um ambiente de recreios onde o brincar livre aconteça – espaços para jogos coletivos, jogos folclóricos, parques interativos, enfim favorecer espaços de pátio com riscos controlados, onde se permita o desenvolvimento motor e socioemocional dos alunos, vínculos saudáveis, o enfrentamento de desafios e a tomada de decisões.

Com a criação de espaços assim, contribuiremos para o desenvolvimento do que Jonathan Haidt chama de “Modo Descoberta”, onde os alunos podem viver atividades prazerosas, os indivíduos podem viver momentos mais felizes, sociáveis e abertos e pode ser assegurada mais aprendizagem e crescimento para a vida.

Compete também ao gestor, no âmbito da família, promover momentos formativos de conscientização sobre a nova política interna de modo a gerar na escola uma comunidade de pais aprendentes, trazendo profissionais internos e externos que possam orientar as famílias sobre como podem mudar sua forma de atuação. Sabemos que muitos pais se sentem perdidos sobre como atuar e é aqui que a escola pode ajudar trazendo orientações e dicas, tais como:

  • Dialogar abertamente: conversar com os filhos sobre os riscos do uso excessivo de telas, incentivando a comunicação e o desenvolvimento de hábitos saudáveis;
  • Estabelecer limites: retardar a disponibilização do celular e, quando oferecer, dar o mais simples, quanto menor for a criança. Além de estabelecer refeição sem celular, definir horários específicos para uso e criar regras claras sobre o acesso aos dispositivos;
  • Incentivar atividades offline: promover atividades como brincar ao ar livre, ler, praticar esportes e jogos de tabuleiro para estimular a criatividade e a interação social: Ex: 6ª feira livre, clube do brincar, clube da leitura, atividades da casa etc.;
  • Unir-se a famílias com propósitos comuns;
  • Monitorar: utilizar o controle parental e filtros e criar uma rotina com diversidade de tarefas, inclusive as de casa.

E não podemos nos esquecer de destacar a importância do EXEMPLO!

No campo pedagógico, os gestores devem:

  • Incorporar as tecnologias digitais de forma responsável e educativa, utilizando-as como ferramentas de aprendizagem e pesquisa;
  • Favorecer reflexões sobre o estabelecimento sobre tempos de tela adequados e horários específicos para o uso de dispositivos em sala de aula, garantindo que as aulas sejam interativas e envolventes;
  • Oferecer programas de educação digital para alunos e professores, abordando os impactos do uso de telas e a importância do uso responsável;
  • Incentivar uma nova vida às bibliotecas escolares, equilibrando as aulas com a leitura de livros e materiais impressos, estimulando o desenvolvimento da capacidade de concentração e da compreensão textual;
  • Estabelecer, colaborativamente, um planejamento rico em estratégias características das metodologias ativas para garantir trocas e colaboração na aprendizagem e discutir normas de conduta, além de garantir o cumprimento delas, em caso de descumprimento dos combinados quanto ao uso do celular.

Assim, construindo uma rede de apoio onde todos os envolvidos se unem em prol de objetivos comuns, a conscientização será mais efetiva e os resultados serão reais!

E você, na sua escola, como tem lidado com este assunto?

Sobre a autora:


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Bett Brasil.

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