A sociedade acordou. Acordou embriagada. Essa é a definição que tenho para tudo que está acontecendo. Pipocam leis neste momento para serem votadas rumo à proibição do uso de celulares nas escolas pelos alunos, crianças e adolescentes, nos espaços educativos. Novamente, erram ao tomar o caminho da proibição e não do diálogo.

O celular é o bode expiatório de uma sociedade que não quer ver seus defeitos. O celular e seu uso agora são criminalizados, porque as crianças e o jovens não estão aprendendo. O celular e seus usos agora são a pauta do momento para aqueles que nunca se ocuparam de uma escuta ativa da infância e da adolescência.

Nunca ouviram os jovens e agora tapam olhos e ouvidos para proibi-los. Lembro-vos, aqui que o celular é câmera fotográfica, televisão, computador, editor de texto, gravador de voz e vídeo, dentre muitas outras utilidades. O celular democratiza e dá aos meninos e meninas pobres a mesma chance de criar e de elaborar caminhos para suas vidas quase em pé de igualdade às classes mais abastadas.

Muitas crianças e jovens pobres podem descobrir, com o celular, o poder de suas artes e de suas comunicações. Com o celular, indígenas ganharam espaço e legitimação que antes não tinham. Criadores de conteúdos verdadeiros estão por todo canto do Brasil graças aos celulares. Uma garota rural pode ter voz tanto quando uma menina quilombola preta ou uma jovem burguesa.

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O celular dá condições que o livro didático nunca deu. Mas ao invés de pensar isso e de encontrar caminhos para que o uso e as potencializações disso aconteça, a sociedade quer agora proibir – jogar fora a criança, a água e a bacia. Está errado.

Depois de três décadas ininterruptas de uso de celular por crianças e jovens, inclusive, nas atividades escolares, de repente a sociedade resolveu que é hora de proibir o uso dele no espaço escolar. Ou seja, nunca ninguém levou a sério essa temática (mesmo nós, educadores, tendo alertado constantemente) e de uma hora para outra resolveram proibi-lo com leis atravessadas.

Ressalto aqui que toda decisão tomada agora servirá a esta faixa etária como exemplo para que eles tomem as decisões, por nós e sobre nós, lá no futuro. Explico – se ao invés de dialogar com a criança e com a juventude – a sociedade já parte direto para a proibição, não me venha, lá na velhice, querer dialogar com eles sobre as nossas vidas. Eles não terão exemplo de diálogos. Eles serão punitivos também com nós velhos, assim como nós com eles estamos sendo agora.

O exemplo é que educa. Esse exemplo da proibição punitiva não vai nos trazer nem avanços e nem ações pacificadoras. Eles simplesmente vão tirar da criança e do jovem seus diretos de participarem da vida. A vida deles.

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